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Garotas de Vidro - Laurie Halse Anderson

GAROTAS DE VIDRO




A história é narrada do ponto de vista de Lia a partir da morte de Cassie, assim mergulhamos na atual vida da protagonista ao mesmo tempo em que, de acordo com suas alterações de humor, vamos desvendando seu passado por meio da menção de algumas de suas memórias, e são com essas lembranças que o mistério da morte da Cassie vai ganhando cara e nome, permitindo que o livro tome um caráter angustiante, doloroso e real em demasia. Delinquência, imprudência, drogas, descaso, solidão, anorexia, bulimia, autoflagelação, palavras que são fáceis de descrevermos separadamente, mas tente juntá-las em uma única palavra, tente imaginar tudo isso preso e enraizado em um coração angustiado e perdido – Que nome você daria a esse monstro? Nesse ponto o que realmente aconteceu com Cassie fica em segundo, pois o que importa é o motivo que levou a jovem a ter esse fim, desfecho que parece rondar também o futuro de Lia e que por isso, obscurece o livro de tal forma que é impossível não se sentir possuído e dominado pela escuridão que domina essas jovens.
Lia conta às calorias de tudo o que come, e a autora não diz isso, demonstra; Lia se olha no espelho e vê uma jovem gorda, feia, estúpida, burra, mas a autora não fala isso, ela escreve  e escreve e escreve até que não existam dúvidas do que a jovem vê no espelho; Lia se corta para sentir a dor e a opressão esvair de seu corpo, só que a autora não cita isso, ela conta como se ela já tivesse passado por isso; Lia toca suas costelas e só vê banha; Lia deseja um pedaço de chocolate, um delicioso pedaço de bolo, uma suculenta bocada de pizza, mas ela é forte, ela não precisa disso, ser vazia é ter poder, vencer a fome é ter poder, e sabe como eu sei disso? Porque eu mergulhei na mente de Lia, eu li sobre a sua paranoia, sobre o seu medo, sobre seus erros e sobre a sua doença, e isso tudo porque a autora foi inteligente e talentosa o suficiente para descrever o estado de Lia e não apenas citar sobre ele.

Trechos Marcantes:

Escute os sussurros que se enrolam na sua cabeça à noite, te chamando de feia e gorda e vaca e biscate e o pior de tudo: “uma decepção”. (...) Olhe no espelho e veja um fantasma. Escute cada batida do seu coração gritar que tudoabsolutamentetudo está errado com você. “Por quê?” é a pergunta errada. Pergunte “Por que não”?.

Eu não deveria. Não posso. Não mereço. Sou uma gorda gigante e tenho nojo de mim mesma. Eu já ocupo espaço demais. Sou uma hipócrita feia e malvada. Sou um problema. Sou um lixo. Quero dormir e não acordar, mas não quero morrer. Quero comer como uma pessoa normal, mas preciso ver os meus ossos ou vou me odiar ainda mais...

Eu finjo ser uma adolescente gorda e saudável. Eles fingem serem meus pais. Está tudo bem.

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